sexta-feira, maio 18, 2007

Fim de um (curtíssimo) ciclo...

O Oceânico deixou de ser publicado e, assim, termina a minha colaboração semanal na imprensa local... No entanto, esta curta colaboração estimulou-me para a escrita.
A partir deste momento, vou "blogar" com mais frequência.

CULTURA CIENTÍFICA E CIDADANIA … NA PRÁTICA

No artigo desta semana, volto a temas já abordados na semana passada. Recordo que o artigo da passada terça-feira pretendia questionar o envolvimento de toda a sociedade na Educação. Dois dias depois, apresentei alguma referências sobre a importância da educação em ciência, argumentado que a maioria da população, nesta sociedade tecnológica e industrializada, deve dispor de conhecimentos científicos e tecnológicos necessários para se desenvolver no seu quotidiano e tomar consciência das complexas interacções ciência, tecnologia e sociedade e para poder tomar decisões críticas e fundamentadas sobre opções que se nos deparam e que podem determinar o futuro da humanidade.

Neste sentido, parece-me que os Encontros Filosóficos deste ano, podem ter sido (e ainda não terminaram!) um contributo para a promoção da cultura científica (e não só) na comunidade Faialense, sobretudo nos alunos de 12º ano de escolaridade e seus pais e encarregados de educação.
No Sábado à noite, a nossa última convidada deste ano, Doutora Nilza Costa, proferiu uma palestra intitulada “A Ciência para lá dos muros dos laboratórios científicos e das escolas” onde destacou a responsabilidade de se partilhar este conhecimento (quem já o possui) e a responsabilidade individual na aquisição do mesmo. Fiquei muito satisfeita por ter encontrado no público alguns cientistas do Departamento de Oceanografia e Pescas, professores e alunos da nossa Escola. Mais contente fiquei pela participação dos mesmos e pelas conversas interessantes que se geraram a partir do tema.
Já noutro contexto, tivemos a apresentação de trabalhos dos alunos de 12º ano, quer na área das ciências, mas também na área da literatura e na área da economia, e senti orgulho em ser professora numa Escola que promove estas dinâmicas de trabalho e, sobretudo, de partilha com a comunidade!
Assim, e para fazer a ligação com os meus escritos da semana passada e com os acontecimentos que lhes sucederam, considero que se está a desenvolver um trabalho individual, por parte dos alunos envolvidos, de promoção da cultura (no seu sentido mais lato) e de formação para um cidadania cada vez mais activa. Está-se a partilhar conhecimentos promovendo a tal literacia e, sobretudo, está-se a desenvolver competências de comunicação e de trabalho cooperativo; “ainda por cima” os temas têm sido interessantes e os trabalhos, na sua globalidade, desenvolvidos com empenho e qualidade.
Parece-me que estamos a dar passos para uma sociedade de aprendizagem em que a qualidade e a intensidade das relações, das autonomias pessoais e das responsabilidades colectivas sejam o centro de todas as estratégias...
Em relação à responsabilidade de todos os parceiros sociais na Educação, temos sentido o empenho e colaboração quer de entidades como a Câmara Municipal da Horta, quer da HortaLudus e de alguns meios de comunicação social locais, mas também de várias pessoas, cidadãos comuns com formação e/ou conhecimentos em áreas específicas, que se disponibilizaram para orientar e comentar os trabalhos desenvolvidos pelos alunos de 12º ano.
Em jeito de conclusão, acredito que grande parte dos jovens envolvidos neste processo venham a sentir que estas actividades de partilha ocorrerão naturalmente no seu exercício de cidadania!

sábado, maio 12, 2007

XIVºS ENCONTROS FILOSÓFICOS: A ERA DA COMUNICAÇÃO/INFORMAÇÃO

Nesta altura, em que a décima quarta edição dos Encontros Filosóficos ainda vai a meio, é precoce fazer balanços e reflexões profundas, mas podemos referir alguns dos acontecimentos já passados e divulgar um pouco do que ainda está para acontecer.
Depois de termos tido três palestras com convidados com currículo reconhecido nacional e internacionalmente, iniciamos o ciclo de apresentações dos trabalhos que os alunos de 12º ano de escolaridade desenvolveram em Área de Projecto. Se nas palestras não esteve muita gente, durante a sessão em que desenrolaram as primeiras apresentações dos alunos a casa esteve cheia (havia gente de pé!...).
Aproveitamos para lembrar que, até ao final destes Encontros, ainda se realizarão mais três sessões de apresentação pública de trabalhos dos nossos jovens (dias 11, 13 e 16 de Maio) e ainda teremos uma palestra (já anunciada num artigo de ontem) com a Professora Nilza Costa (Sábado, dia 12 de Maio, pelas 21h, no auditório do Teatro Faialense) . Esta Professora da Universidade de Aveiro virá proferir uma palestra intitulada “A Ciência para lá dos muros dos laboratórios científicos e das escolas” onde argumentará sobre a importância do desenvolvimento da literacia científica de qualquer cidadão na sociedade actual baseando-se na ideia de que a “Ciência” está em toda a parte e de que uma cidadania responsável hoje exige competências ao nível dessa literacia. Ilustrará isso (a) fazendo referência à “Década do Desenvolvimento Sustentável” (UNESCO) e (b) através da análise de artigos de jornais (“Árctico: massa de gelo com 66 quilómetros quadrados desprende-se e forma nova ilha do Pólo Norte”, “Enzima de pirilampos pode ajudar no tratamento do cancro”) cuja compreensão do seu conteúdo passa também pela “presença” dessa literacia.
Na Escola, a Professora Nilza Costa, desenvolverá o tema “Ciência e poesia: dois mundos distintos?” procurando argumentar que a ciência e a poesia podem (e devem) ser mundos que se cruzam. Uma das razões para tal prende-se com a relevância do desenvolvimento integral da pessoa. Ilustrará a sua comunicação com trabalhos que tem vindo a desenvolver nesse domínio em particular tendo como referência Rómulo de Carvalho e seus seguidores no contexto do programa Ciência Viva.

quinta-feira, maio 10, 2007

work in progress...

Apresentação dos trabalhos de Área de Projecto 12º ano: “A fotografia como meio de comunicação”, “Correcção Acústica numa sala de aula”, “Construção de um instrumento musical alternativo” – 8 de Maio

A CIÊNCIA PARA ALÉM DOS MUROS DOS LABORATÓRIOS E DA ESCOLA

Um indivíduo científica e tecnologicamente alfabetizado é, segundo diferentes autores (Solomon, et al, 1995; Millar, 1996; Martins, 1999, entre outros) aquele que é capaz, de forma consciente, de apresentar uma postura crítica em relação a assuntos que envolvam a ciência, tecnologia e sociedade e de entender que a interacção entre ciência, tecnologia e sociedade envolve aspectos morais, éticos, sociais e ambientais.
Esta postura crítica requer, entre outras aprendizagens, a construção de imagens adequadas de ciência e do trabalho científico, bem como de experiências de conflito que promovam a necessidade de tomar decisões ponderadas.
Precisamos de cidadãos que tenham um certo grau de conhecimento científico, mas é necessário que as pessoas saibam mais do que uma série de factos sobre a Natureza. Queremos que os cidadãos saibam como é que a ciência chega a certas conclusões sobre a Natureza e, principalmente, queremos que saibam como é que os indivíduos e a sociedade em geral influenciam a produção desse saber. Só assim é que os cidadãos poderão guiar os seus representantes democraticamente eleitos quando tomarem decisões políticas com componentes científicas e democráticas (Lewenstein,1995).
Solbes e Vilches (2002) referem que a literacia científica e tecnológica significará que a grande maioria da população disporá de conhecimentos científicos e tecnológicos necessários para se desenvolver no seu quotidiano, ajudar a resolver problemas e necessidades de saúde e sobrevivência básicos, tomar consciência das complexas interacções ciência, tecnologia e sociedade, que lhes permitirá tomar decisões e a considerar, definitivamente, a ciência e a tecnologia como parte da cultura do nosso tempo.
Logicamente o ensino das ciências deverá contribuir para a consecução dessas finalidades e objectivos, com a compreensão de conhecimentos, procedimentos e valores que permitam aos jovens tomar decisões e perceber, tanto a utilidade da ciência e das suas aplicações na melhoria da qualidade de vida dos cidadãos como as limitações e consequências negativas do seu desenvolvimento. Mas deverá, o ensino das ciências, estar confinado à Escola ou, mais uma vez, poderá ser uma tarefa social, nomeadamente, através de acções promovidas por associações culturais (habitualmente, quando se fala em cultura, não se inclui o conhecimento científico!), autarquias, meios de comunicação social e outros ?
Uma reflexão sobre estas e outras questões é que nos proporá a professora Nilza Maria Vilhena Nunes da Costa na palestra que proferirá no próximo sábado, dia 12 de Maio, no auditório do Teatro Faialense.

NOTA: Nilza Maria Vilhena Nunes da Costa, é Licenciada em Física e Doutorada em Física – Especialização em Ensino, tem trabalhado na área da Educação/especialidade Didáctica das Ciências no Departamento de Didáctica e Tecnologia Educativa da Universidade de Aveiro onde é professora catedrática. Tem estado integrada em diversos projectos de investigação na área da Didáctica, da Formação de Professores e da Avaliação, tendo sido investigadora responsável de alguns deles, quer a nível nacional quer internacional, nomeadamente no contexto da comunidade europeia.

Educação cívica e responsabilidade social

Trabalho no ensino por vocação e, frequentemente, com paixão há cerca de 19 anos. Durante 10 anos, leccionei, quase sempre, em escolas diferentes na região do Grande Porto, e, nos últimos 9 anos, tenho leccionado sempre na mesma escola, aqui no Faial.
Ao longo da minha actividade profissional, tenho tentado criar e/ou promover dinâmicas que possam enriquecer o meio escolar onde me integro e que, obvia e necessariamente, me enriquecem a nível profissional e pessoal.
Ao fim de quase duas décadas de experiência, resolvi aceitar o desafio de falar publicamente sobre educação, operacionalizando esta decisão através de colaboração semanal no Oceânico.
Mais do que partilhar experiências e ideias, espero poder contribuir para a reflexão e debate sobre a educação, a cultura e as dinâmicas de participação cívica de todos os leitores... Vamos lá ver se resulta!...
O tema que me surge como prioritário para esta reflexão é o conceito de cidadania e de educação para a cidadania. É, pois, por aqui que vou começar!...

“A aposta da generalidade dos países da Europa – quer dos que adoptaram recentemente a fórmula democrática na sua organização social e política, quer das democracias dadas por consolidadas – na centralidade da Educação para a Cidadania como eixo de referência dos seus sistemas educativos dá conta da urgência da resposta a novos fenómenos que atravessam hoje o quotidiano das nossas sociedades. Em termos sintéticos, este desafio traduz-se na exigência de mudança de uma educação pensada e praticada como transmissão de conhecimentos e memórias a receptores passivos para uma sociedade de aprendizagem em que a qualidade e a intensidade das relações, das autonomias pessoais e das responsabilidades colectivas sejam o centro de todas as estratégias “(Cadernos do DES, 2001).

Muito bem! Parece-me que este é o caminho ideal... Uma Escola em que para além dos saberes se promovam dinâmicas relacionais de qualidade, autonomias pessoais e responsabilidades colectivas! Brilhante, democrático e politicamente correcto!
Primeiro temos que pensar qual o actual papel da Escola... Há umas décadas atrás, a Escola tinha um papel claro: instrução! Actualmente, o papel da escola é, de acordo com a Lei de Base do Sistema Educativo, promover a “formação integral do indivíduo”. Assim, a Escola passa a ser responsável pela educação e instrução! Será que a Escola tem capacidade para desenvolver esta tarefa sozinha? Será exequível?
As Famílias, até ao momento, não delegaram a exclusividade da educação dos jovens nas escolas, mas os pais, genericamente, estão mais ocupados e preocupados (a vida não está fácil para ninguém!) e os nossos filhos passam muito mais tempo (útil?) na Escola e têm que levar a Escola para casa (os famosos T.P.C.s). Onde encontram as Famílias tempo para os afectos? Que tempo têm para promover a tal “qualidade e intensidade das relações”?
Qual o papel dos restantes organismos e parceiros sociais na Educação para a cidadania? E qual o papel de cada um de nós? Qual o papel de nós todos (sociedade)?
Como é possível educar os jovens para a cidadania e intervenção cívica activa, reflexiva, crítica e exigente, se todos os dias os alimentamos com programas como os famosos morangos e floribelas e notícias mediáticas de corrupção e cunhas para empregos e os seduzimos com consumos e lhes sugerimos que é mais importante ter do que ser e etc, etc, etc...? Como é possível educar para “as responsabilidades colectivas” que não nos assumimos como um colectivo, se, em vez disso, preferimos ficar “adormecidos” em frente à televisão em vez de nos encontrarmos uns com os outros (ou connosco próprios!)?
Não estará na altura de todos (professores, pais, políticos, agentes culturais e sociais, empresas, operários, artífices, artistas, etc. ) assumirmos esta responsabilidade em conjunto? Será que a vamos continuar a delegar ou vamos assumi-la como uma responsabilidade colectiva?