O Projecto Educativo da Escola Secundária Manuel de Arriaga tem como missão, para o próximo triénio, “assegurar um ensino de qualidade, desenvolvendo uma atitude crítica, consciente e participativa.” (Projecto Educativo de Escola, 2007).
“A missão deve servir de base ao estabelecimento dos objectivos estratégicos que permitam circunscrever as prioridades do programa de acção, tornando-o mais realista. Assim, a prioridade máxima é atribuída à área que mais directamente afecta o sucesso dos alunos, Ensino e Aprendizagem, e os objectivos definidos dizem respeito ao planeamento, implementação e avaliação do processo educativo, com especial atenção para o desenvolvimento das competências básicas.
Para que a missão possa ser levada a cabo e para que os objectivos sejam cumpridos é necessário que haja uma visão conjunta do que queremos da nossa comunidade escolar. Assim, queremos uma escola…
· De qualidade, que produza aprendizagens significativas que permitam a continuação de estudos ou o ingresso na vida activa;
· que desenvolva as capacidades de aprender a aprender e de aprender a ser;
· aberta às dinâmicas de mudança, que incentive e dinamize mecanismos que visem a inovação de práticas pedagógicas e uma maior motivação para o sucesso educativo dos alunos;
· em que o profissionalismo, a autonomia, a responsabilidade, a tolerância, a solidariedade, o voluntariado, a cidadania pró-activa, a auto-estima e a sensibilidade ambiental sejam valores que contribuam significativamente para a formação ética e social dos alunos;
· inclusiva, que respeite as diferenças e a multiculturalidade.” (Projecto Educativo de Escola, 2007)
Os Encontros Filosóficos, sendo um projecto que visa promover dinâmicas de trabalho de reflexão e debate sobre diversos temas da actualidade, com significado para a Escola e para a Comunidade, mas também proporcionar aprofundamento de informação relativamente a esses temas, este ano, adoptaram como temática “Inovação em Educação” no sentido que contribuir de forma mais clara e efectiva para a missão do Projecto Educativo de Escola que se encontra no último ano de execução. Para além de este, ser um ano de balanço em termos de implementação do Projecto Educativo, é também um ano em que se pensará e conceberá o próximo Projecto Educativo de Escola sendo de extrema importância, nesta fase, a reflexão, ao nível da Escola e toda a Comunidade, sobre a consecução dos objectivos estratégicos definidos no último triénio e a missão para o próximo. Por outro lado, o Sistema Educativo Regional encontra-se numa fase de regionalização do currículo e de Dinâmicas de elaboração de novos/inovadores recursos pedagógicos, sendo esta mais uma razão para a problematização da temática escolhida.
Assim, e numa perspectiva de enriquecer o debate e estimular práticas “inovadoras”, propomos para este ano, uma abordagem centrada na apresentação discutida de “Boas” e “Inovadoras” práticas em Educação. Pretendemos trazer para a participação neste projecto, pessoas e/ou instituições que partilhem e estimulem atitudes mobilizadoras da “Inovação em Educação”.
A nossa sociedade exige, cada vez mais, respostas inovadoras aos diferentes e complexos problemas que, de uma forma imprevisível, se colocam a cada instante. Particularmente nos nossos dias em que a Humanidade tem de se confrontar com problemas tão diferentes e complexos. A inovação é, pois, uma das exigências prioritárias do presente se atendermos à necessária participação do Homem na construção das sociedades contemporâneas. A sua pertinência e necessidade são, hoje, largamente aceites.
No entanto, o termo inovação nem sempre é utilizado na sua acepção mais correcta. Ele é frequentemente utilizado como sinónimo de mudança, ou de renovação ou de reforma, sem contudo se tratarem de realidades idênticas (Cardoso, 1992).
Segundo Cardoso (1992), inovação não é uma mudança qualquer. Ela tem um carácter intencional, afastando do seu campo as mudanças produzidas pela evolução "natural" do sistema. A inovação é, pois, uma mudança deliberada e conscientemente assumida, visando uma melhoria da acção educativa. A inovação pedagógica traz algo de "novo", ou seja, algo ainda não estreado; é uma mudança, mas intencional e bem evidente; exige um esforço deliberado e conscientemente assumido; requer uma acção persistente; tenciona melhorar a prática educativa; o seu processo deve poder ser avaliado; e para se poder constituir e desenvolver, requer componentes integrados de pensamento e de acção (Cardoso, 1992).
Apesar da consciência que, de uma forma geral, todos parecem ter da inovação como uma das exigências prioritárias, é surpreendente constatar a lenta transformação dos sistemas educativos. Em pleno século XXI, as escolas persistem em continuar enquadradas por um modelo escolar tradicional que teve a sua razão de ser há alguns séculos atrás, que se adapta mais a um mundo estático do que a um mundo em mudança.
Um pouco por todo o mundo a educação continua a desenvolver-se num estilo defensivo e não com um estilo agressivo necessário para fazer frente aos diferentes e complexos problemas que desafiam o nosso tempo. Apesar das inúmeras e diferentes tentativas para remodelar o ensino desencadeadas em diversos países, as escolas e o modelo escolar tradicional têm persistido. No nosso país, em particular na última década, têm-se desenvolvido numerosos esforços tendentes à implementação de experiências inovadoras, nomeadamente no âmbito da última reforma curricular. Embora a reforma fosse guiada por uma ideia tão clara e tão simples como a da centralização do currículo na aprendizagem e no aluno, a concretização não foi assim tão perfeita, não foi feita em termos de aprendizagem ou da formação dos professores como facilitadores da aprendizagem. Tudo se centrou no ensino enquanto actividade do professor (Abrantes, 1996, p.15).
Uma conclusão importante a reter é, pois, a de que a legitimação política ou a racionalidade científica dos projectos inovadores não constituem garantia de êxito da sua implementação. A inovação tem revelado tanto de aliciante quanto de problemático e de complexo!
Uma das principais razões justificativas destes resultados insuficientes prende-se com a complexidade do fenómeno da inovação aliado à ausência de uma perspectiva teórica alargada e, em particular, ao pouco conhecimento das variáveis pessoais e organizacionais que interactuam no complexo processo inovador.
“Com efeito, muito se tem discutido e escrito acerca da inovação e dos modelos de implementação de inovações, mas pouco se tem adiantado em relação à natureza propriamente dita da inovação e também sobre as variáveis e os mecanismos essenciais reguladores desta.
- Que variáveis organizacionais serão realmente importantes na inovação, nomeadamente na criação de um clima encorajador que favoreça a iniciativa pessoal ou grupal?
- Que variáveis pessoais do professor poderão estar implicadas numa maior receptividade à inovação, em educação?
- Que importância terão as variáveis demográficas (sexo, idade, experiência profissional ...) no contexto da implementação de inovações?
- Que variáveis de personalidade poderão estar implicadas numa maior ou menor predisposição à inovação e qual a sua importância relativa?
- Como interagem estas diferentes variáveis organizacionais e pessoais no processo inovador?” (Cardoso,1997)
Ao apresentarmos estas questões levantadas por Cardoso (1997), pretendemos, por um lado, realçar a complexidade inerente ao processo inovador e, por outro lado, perspectivar/compreender a inovação pedagógica de uma forma abrangente. Os horizontes da investigação neste campo são vastos e diversificados. Ainda há muito para reflectir e investigar, seja em termos teóricos seja em termos práticos. Torna-se, pois, urgente prosseguir esforços neste sentido.